Departamento de arbitragem
Parecer técnico sobre os Jogos
RELATÓRIO TÉCNICO
87º Jogos Abertos do Interior do Estado de São Paulo – 2025
Evento: 87º Jogos Abertos do Interior do Estado de São Paulo
Período: 15, 16 e 17 de dezembro de 2025
Municípios participantes: 25
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- Organização e Preparação
A equipe de arbitragem chegou ao local da competição às 17h30, com a finalidade de realizar a conferência da montagem e funcionamento dos equipamentos necessários à execução da modalidade. Às 18h20, teve início o congresso específico da modalidade, conforme regulamento vigente.
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- Congresso Técnico
O GMS Donizetti, vice-presidente da FETESP e representante oficial da entidade no evento, realizou a abertura oficial, dando as boas-vindas aos participantes. Na sequência, convidou o GMS Fabiano Morciani, supervisor da modalidade, que apresentou e esclareceu os pontos do regulamento da Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo.
Posteriormente, o MS Thiago Rodrigues, diretor de arbitragem da FETESP, abordou os critérios técnicos e as regras de arbitragem que seriam adotadas durante a competição. Em seguida, o Mestre Jonas Alves explanou sobre os procedimentos e critérios para a realização da competição de poomsae.
Após os esclarecimentos e sanadas todas as dúvidas, foi realizado o sorteio das chaves, contemplando oito categorias, sendo quatro femininas e quatro masculinas.
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- Competição – Categoria Talento
A categoria Talento (faixas coloridas) contou com a realização de 51 lutas, ocorridas no dia 16 (terça-feira). O início da competição deu-se às 8h45, com atraso em razão de problemas logísticos relacionados ao transporte da Secretaria. As atividades foram encerradas às 15h36.
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- Competição – Categoria Elite
No dia 17 (quarta-feira), já com as questões de transporte regularizadas, a categoria Elite (faixas pretas) teve início pontualmente às 8h00, com a realização de 54 lutas.
A pesagem oficial iniciou-se às 18h40, sendo finalizada às 19h50, sem intercorrências relevantes.
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- Equipamentos e Deliberações
Durante o congresso técnico, representantes de alguns municípios manifestaram questionamentos quanto à qualidade e ao funcionamento dos coletes e meias eletrônicas a serem utilizados na competição, tendo em vista que apenas uma das equipes possuía experiência prévia com o referido equipamento.
Após debate entre os participantes e a organização, foi deliberado, por consenso, que a equipe fornecedora dos equipamentos também utilizaria as meias, parte integrante do sistema, em igualdade de condições com os demais competidores.
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- Encerramento
Ao término do congresso técnico e das deliberações, o GMS Donizetti agradeceu a participação de todos os municípios e envolvidos na organização, desejando êxito aos competidores e ressaltando o princípio da isonomia técnica, encerrando com a tradicional mensagem de que vença o melhor.
este parecer traz de forma Ipsis litteris aos fatos observados no evento, referente e aos olhos da arbitragem e sua coordenação.
A equipe de arbitragem foi alojada em escola como de praxe. Cabe ressaltar alguns pontos. O alojamento não possuía camas suficientes para a equipe. Além de estar em péssimas condições sanitárias, nem todas as camas tinham estrado. Para o banho, três chuveiros, para todos os “hospedes” de todas as modalidades, instalados sobre o assento sanitário e a água do banho, que alagava o piso, escorria pela porta do banheiro.
A alimentação era feita fora do local de hospedagem, em outra escola. Um deslocamento a pé de aproximadamente 15 minutos e estava chovendo.
O transporte não estava sempre disponível para nos levar até o ginásio e vice-versa. E uma das viagens nos atrasou mais de 45 minutos do início das atividades no ginásio, deixando as equipes e atletas impacientes e aguardando a chegada da arbitragem, prejudicando física e psicologicamente os mesmos, assim como a equipe de arbitragem pois a “culpa” pelo atraso recaiu sobre nós.
Alguns árbitros, para que tivessem o mínimo de salubridade, optaram por se hospedarem em hotéis, pagando do próprio bolso e assim terem condições de trabalho.
Quanto a estrutura da competição. O ginásio é antigo e mal cuidado. Fezes de Pombas infestavam mesas, cadeiras e tatames. A equipe de limpeza demonstrou esforço ímpar para manter a higiene e condições adequada para a prática esportiva. As mesas e cadeiras eram velhas e quebradas.
Dos recursos materiais utilizados. No dia do congresso todo material estava instalado e pronto para a utilização. A empresa contratada manteve profissionais atuantes para oferecer o apoio necessário ao evento. Esses funcionários não interviram no evento a não ser quando solicitados.
O sistema utilizado na competição de Poomsae não era homologado tão pouco reconhecido pelas entidades que regem o Taekwondo, em todos os níveis hierárquicos incluindo a entidade máxima (World Taekwondo Federation).
O sistema utilizado nas lutas olímpicas (Kyorugui) foi o “Waychamp”. Esse sistema, apesar de reconhecido pela federação mundial, nunca fora utilizado fora dos circuitos mundiais. Foi lançado recentemente e ainda não existe treinamento específico para a utilização do mesmo. Abaixo, quando for citado a atuação dos árbitros, será apontado situações onde a empresa contratada para os equipamentos alega ter pessoas capacitadas para utilizar, mas os fatos não corroboram para tal.
Ainda sobre o sistema “Waychamp”, por ser um sistema nunca utilizado, os atletas foram obrigados a pegar “emprestado” da empresa contratada, as meias eletrônicas. Total falta de responsabilidade no que se refere a ética e disputa justa.
Situação que foi levada em consideração no congresso técnico pelos técnicos presentes. A equipe de São José dos Campos, ligada diretamente à empresa contratada para os equipamentos e sistemas, foi apontada por terem suas meias próprias e os demais municípios terem que pegar os outros pares “emprestados” e assim criando a especulação de injustiça na possível “manipulação” dos equipamentos.
O congresso decidiu que todas as equipes deveriam utilizar as mesmas meias incluindo São José dos Campos.
Justificando a relação apontada acima, a empresa que levou os materiais e equipamentos, é composta em sua forma integral por membros da “Equipe Liga Vale”, do município de São José dos Campos, e soma a eles um ex árbitro que inclusive passa por processos judiciais junto a secretaria de esportes.
Curioso a secretaria permitir empresa com vínculo direto com um município participante dos jogos e um ex membro que passa por processos.
O sistema de Poomsae não apresentou problemas, fazendo com que a competição fluísse normalmente.
O sistema de Luta (Kyorugui) apresentou certas dificuldades técnicas na operação do sistema e no método de transmissão de dados entre os protetores e sistema, principalmente no início de cada dia. Comparando com o sistema antes utilizado e mundialmente reconhecido (KPNP), o sistema WayChamp é tecnicamente inferior e, apesar de novo, tem falhas básicas.
Um exemplo dentre diversas situações foi que o sistema decidia sozinho, por meio de calibragem, se o soco do atleta era ponto ou não. Essa função, por regulamento, é dos juízes laterais. O sistema sobrepunha as decisões dos juízes e tal situação atrasava todo processo de luta pois os juízes tinham que intervir na disputa, solicitando verbalmente o ponto dado. A empresa contratada, assim como os árbitros inscritos de última hora e supostamente especialistas do sistema, não observaram tal falha. Os árbitros reconhecidos que perceberam a falha e solicitaram as devidas correções no sistema.
Alguns capacetes, ainda que novos, apresentaram incompatibilidade com o sistema e foram substituídos.
O piso (tatame) oferecido, tampouco era homologado. Era fino e devido a intensidade das lutas e apresentações, desencaixavam trazendo risco a integridade dos atletas.
As televisões, que costumeiramente utilizamos para o placar eram pequenas, precisam ser maiores. Árbitros, Atletas, técnicos e publico tinham dificuldade em ver os resultados.
Quanto a equipe de arbitragem. A lista de convocados foi alterada diversas vezes pela secretaria, dificultando a definição de tarefas e atuação de cada árbitro no evento. Alguns nomes surgiram no dia do evento. Desconhecidos dos meios oficiais e regulares de arbitragem, alegaram estar lá pois seriam os operadores dos sistemas oferecidos pela empresa contratada pelo estado.
Num breve resumo dos fatos, o estado contratou como árbitros, pessoas indicadas da empresa que ofereceu os sistemas. Não são árbitros.
E fazendo essa conexão, que por si só é indevida (não são árbitros legalmente formados e atuantes), não eram exímios conhecedores dos sistemas operantes.
Diversas dificuldades técnicas foram surgindo e os mesmos nitidamente “experimentavam” soluções. O esforço em resolver os problemas deve ser reconhecido, mas dizer que sabem operar o sistema, não condiz com a realidade.
Reforço ainda que este relato é estritamente técnico. As pessoas eram super atenciosas e dedicadas. Nada a reclamar, pelo contrário. Não eram, e creio que nem teria como ser, especialistas do sistema utilizado, afinal de contas esse novo sistema acabou de surgir e nunca foi utilizado fora dos mundiais.
Especificamente um integrante da equipe de arbitragem, que entrou de última hora, estranhou a todos os representantes dos municípios e árbitros reconhecidos.
Sr. Antonio, que diz já ter arbitrado tempos atrás, foi colocado como árbitro pela secretaria. Este senhor, que aparentava boas intenções, é amplamente conhecido por ser técnico da equipe Liga Vale que representa São José dos Campos. Técnico polêmico e que na etapa dos Jogos Regionais, que aconteceu na sua cidade, promoveu um cenário deplorável no congresso técnico, naquela ocasião, chegando quase a “vias de fato” com representantes de outros municípios.
Este senhor, num primeiro momento, acatou às funções determinadas para si.
Mas em dado momento, abandonou suas funções para “assistir” as lutas do seu município, atrás da mesa de árbitros. Tal postura foi criticada e apontada diversas vezes por técnicos. O mesmo foi reiteradamente solicitado a voltar para suas funções, o que não fazia. No segundo dia, o representante do estado deu um ultimato para que, ou ele ficava fixo as suas funções de árbitro estabelecidas, ou seria retirado do evento. O mesmo então acatou.
A pergunta que não teve resposta: porque uma pessoa com a imagem tão vinculada a um município, de última hora é inscrito como árbitro? E sabendo do seu vínculo direto com a equipe que representa e com a empresa que foi contratada para os sistemas e materiais, ainda assim, se envolver na equipe de arbitragem?
Qual a verdadeira intenção?
Em suma, assistência aos profissionais insalubre. Estrutura para o trabalho precária. Empresa contratada para os sistemas de avaliação e competição diretamente ligada a equipe representante do município de São José dos Campos. Lista de árbitros alterada de última hora com nomes de pessoas não capacitadas para arbitrar. Técnico da equipe de São José dos Campos inscrito com árbitro e apesar de apresentar bom comportamento, não cumpriu corretamente com o que lhe foi designado além de ter um histórico de mal comportamento e violência recente. Aceitar como um prestador de serviço um ex árbitro que enfrenta processos diversos.
E apesar de tudo, a massa humana, que devo incluir, mesmo nas suas dificuldades técnicas todos os inscritos de última hora que não são árbitros regulares e legalmente reconhecidos, a equipe de arbitragem em seu todo, entregou um evento com qualidade e justiça. Ganhou quem tinha que ganhar.
Mestre Tiago Rodrigues
Grão-Mestre Donizetti Reinaldo